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O que é a Reserva Ecológica Michelin?
A Reserva Ecológica Michelin (REM) é uma área protegida de aproximadamente 3.800 hectares que pertence a Plantações Michelin da Bahia (PMB), um membro do Grupo Corporativo da Michelin com sede em Clermont-Ferrand na França. A reserva engloba um mosaico de Mata Atlântica ombrófila e plantios de seringueiras nos municípios de Igrapiúna e Ituberá, a 140 quilômetros ao sul da capital, Salvador. A reserva é legalmente classificada sob diversas categorias de conservação, inclusive Reserva Legal, Servidão Florestal e Reserva Particular de Patrimônio Natural. A reserva faz parte do projeto mais amplo da Michelin conhecido como Michelin Programa Ouro Verde Bahia que inclui programas de pesquisa econômica, social e agronômica que visam estimular a economia regional e melhorar o padrão de vida dos pequenos agricultores através do plantio de melhores variedades da seringueira.

Por que a Michelin criou esta reserva?
A Reserva Ecológica Michelin foi criada em 2005 (port. # 13294, decreto # 1.922/96) com o propósito de preservar um remanescente significativo da Mata Atlântica no sul da Bahia, conhecido por sua rica biodiversidade e suas espécies endêmicas numa região que tem sofrido desmatamento intenso e degradação extensiva. Um dos propósitos fundamentais para a criação da reserva foi proteger a floresta de caçadores clandestinos, porém a empresa também encontrou aí a oportunidade para investir em reflorestamento, pesquisa ecológica e programas de educação ambiental após ter percebido que a carência de programas nesses moldes está impedindo a gerência adequada e proteção da Mata Atlântica da Bahia. Portanto, a reserva é organizada baseada em cinco programas: proteção, restauração, pesquisa, educação ambiental e ecoturismo na cachoeira da pancada grande. A criação da reserva faz parte da filosofia corporativa da Michelin sobre o uso sustentável de recursos naturais e práticas empresariais com responsabilidade ambiental.

Organização da reserva
A reserva é administrada pelo Centro de Estudos da Biodiversidade (CEB) formada por com uma equipe de 21 pessoas: o diretor da reserva (Dr. Kevin M. Flesher), o administrador (André Sousa dos Santos), cinco guardas florestais, uma equipe de dez pessoas trabalhando na restauração, três atendentes na Cachoeira Pancada Grande e uma profissional no CEB.

Quem tem acesso à reserva?
A reserva é uma área de uso múltiplo com um esquema de zoneamento para determinar o uso de cada área. O turismo é limitado à Cachoeira Pancada Grande e à Floresta Pancada Grande de 172 ha acima da cachoeira no lado norte do Rio Cachoeira Grande. Cientistas com projetos aprovados e visitas programadas têm acesso a toda reserva.

rem seringueiras 4

Geografia

A Reserva Ecológica Michelin situa-se numa região conhecida como a Costa de Dendê no Baixo Sul da Bahia. Hoje, a paisagem é caracterizada por uma variedade de ecossistemas distintos que incluem Mata Atlântica costeira latifoliada, piaçava  (Attalea funifera), restingas, florestas de jataipeba (Brodriguesia santosii), estuários com extensões de manguezal, rios, várzeas, e mar aberto e sistemas agroflorestais diversos com mais de 60 cultivos plantados. Mais de 4.000 fragmentos de florestas permanecem nos arredores da reserva, que ocupam uma área de aproximadamente 40.000 hectares, e a maior parte dos fragmentos tem menos de 30 hectares, enquanto os poucos fragmentos acima de 500 hectares constituem a maior parte da cobertura florestal. A paisagem de sistemas agro florestais mistas na Colônia fica ao norte da reserva, plantações extensivas de borracha/cacau/banana estão localizadas a leste e ao sul, e existem mais de 13.000 hectares de floresta ao oeste da reserva.

A história do uso da terra

A região tem uma história longa de assentamentos humanos e a chegada do povo Sambaqui ocorreu há 7.000 anos. Há pouca informação sobre as subsequentes ondas de colonização humana (nenhum desses povos deixou monumentos ou relatos escritos), porém sabemos que foram caçadores-coletores. Os povos Tupi-Guarani, que migraram da bacia do Rio Paraná norte ao longo do litoral Atlântico cerca de 1.500 anos antes introduziram a agricultura na Mata Atlântica, e é provável que tenham chegado a região da reserva pelo menos há 1.000 anos. Na época da conquista Portuguesa no século 16, a reserva situava-se na fronteira norte do território dos Tupiniquins e os Guerens (a.k.a Aimorés, Botocudos, Engereckmung) habitavam as terras vastas de florestas além da paliçada litorânea. Enquanto podemos imaginar que os caçadores-coletores tiveram um impacto limitado na paisagem, os Tupis, agricultores, transformaram a floresta através das suas práticas agrícolas. Plantaram mandioca, milho, feijão, abóbora, pimenta, abacaxi, batata-doce, mamão, tabaco, e algodão dentro de seu sistema de agricultura migratória. Como resultado, criaram um mosaico na paisagem de florestas, áreas cultivadas, e lotes agrícolas. A terra cultivada poderia ter sido extensiva devido ao fato que mandioca é cultivada apenas por uma safra (1,5 anos) e demora séculos para esse terreno tornar-se floresta madura. É provável que os Tupiniquins tenham derrubado as florestas na área da atual reserva para plantar suas culturas agrícolas, uma vez que o Rio Cachoeira Grande é um dos maiores rios da região e possui vários quilômetros de terra plana aluvial ao longo do seu curso inferior. Mesmo assim, é evidente nos primeiros relatos dos Portugueses que a maior parte da paisagem tinha cobertura florestal depois de 500 a 1.000 anos de agricultura dos Tupis.

Chegando ao fim do século 16, os Tupiniquins encontrava-se um povo conquistado, que sofreu um grande encolhimento da sua população devido ao período prolongado de guerra com os Portugueses e epidemias recorrentes, resultado das doenças introduzidas. Com esse declínio da população, é provável que grande parte da terra cultivada tenha revertido para floresta. A resistência feroz dos Guerens impediu que os Portugueses penetrassem o interior, portanto, a pressão na floresta durante o inicio do período colonial foi limitado a uma faixa estreita de floresta no litoral. Ituberá foi fundado em 1682 como um posto avançado da missão Jesuíta baseada em Camamu. A economia era de subsistência baseado no cultivo de mandioca e extração limitada de madeira. Mesmo após a derrota final dos Guerens nos meados do século 18, a região permaneceu extremamente isolada com uma população pequena e agricultura restrita as terras perto dos povoados litorâneos. Sendo assim, é provável que a floresta tenha sido pouco perturbada. Da mesma forma, enquanto os madeireiros derrubaram as árvores na região ao longo dos períodos coloniais e imperiais, eles restringiram suas operações às florestas com acesso fácil e é improvável que eles tenham explorado as florestas da reserva de uma maneira significativa. No fim do século 18 e início do século 19, as famílias dos posseiros (agricultores habitando terras inativas do governo) migraram dos povoados em direção aos morros, derrubando floresta para plantar mandioca e banana e criando suínos. Algumas dessas famílias colonizaram as florestas da reserva, limpando as terras mais planas que beiravam os rios e córregos maiores e eventualmente derrubando a floresta nas encostas mais íngremes, especialmente ao longo do vale do Rio Pacangê. A densidade populacional dentro da reserva permanecia pequena durante a ocupação dos posseiros, mas eles tiveram um efeito marcante na floresta através da criação de áreas extensivas de florestas secundárias e da caça. Apesar da área permanecer sob cobertura florestal nos meados do século 20, os posseiros conseguiram, através da atividade de caça intensiva, extirpar a anta (Tapirus terrestris), o queixada (Tayassu pecari), o tatu-canastra (Priodontes maximus), e a arara vermelha (Ara chloropterus), (e nos caso do queixada, a sua extirpação pode ter ocorrido como resultado de uma doença transmitida pelo suíno doméstico.)

A maneira de viver do posseiro chegou ao fim em 1950 com a chegada dos grandes investidores que confiscaram a terra dos posseiros e dividiram as terras devolutas para estabelecer plantações de cacau e seringueira. Essa nova onda de imigrantes transformou radicalmente a paisagem, aniquilando quase toda a floresta antiga e reduzindo a cobertura florestal em 50% ao longo das próximas duas décadas. A Firestone comprou a terra a qual a reserva situa-se em 1953 (uma parte da sua propriedade de 9.000 ha) e derrubou e queimou a floresta para plantar uma monocultura de seringueira. Deixaram floresta apenas nos locais onde a agricultura fosse impossível. Metade do que hoje faz parte da reserva foi derrubada e ainda sustenta um mosaico de seringueiras, várzeas e matas ciliares compostas de vegetação pioneira. Os remanescentes foram usados como depósitos de madeira e empregaram o corte seletivo em todas as florestas para construir e manter a infraestrutura da plantação. Pacangê (que não fazia parte da propriedade da Firestone) teve vários donos que limparam o setor do sul da floresta para a criação de gado, porém a maior parte da floresta derrubada foi feita pelos posseiros no século anterior.     

Os imigrantes inundaram a região para auxiliar no estabelecimento de novas plantações e derrubar madeira para o moinho. Como resultado do aumento da população que habitava a paisagem e o aumento de acesso às áreas que antigamente eram muito remotas, os caçadores caçavam sem limites e as populações de vida silvestre despencaram. Entre 1950 e 1980, os caçadores extirparam a onça  (Panthera onca) o bugio-marrom (Alouatta guariba) e as populações de caititu (Pecari tajacu), capivaras (Hydrochoeris hydrochearis), macaco-prego-do-peito-amarelo (Sapajus xanthosternos), coati (Nasua nasua), cutia (Dasyprocta leporina), jupará (Potos flavus), mutum-de-bico-vermelho (Crax blumenbachii) e outras espécies despencaram dramaticamente, desaparecendo da maior parte da paisagem. Apenas o mico (Callithrix penicillata) e o guaraxaim (Cerdocyon thous) escaparam dessa perseguição.

A Michelin adquiriu a propriedade em 1984 e continuou a usar a paisagem de modo parecido com a Firestone. Os caçadores continuaram assolando as florestas e tirando madeira e a palmeira juçara (Euterpe edulis). As politicas ambientais na plantação começaram a mudar no meado dos anos 90 sob a direção de Bertrand Vignes e Bernard Francois, que supervisionaram a aquisição da floresta do Pacangê em 1999. A situação continuou a melhorar sob o sucessor deles, Lionel Barré, que organizou a legalização da reserva (2005) e o estabelecimento do programa de pesquisa (2006). Hoje, a reserva tem uso específico, restrito a pesquisa, educação ambiental e turismo limitado. Cinco guardas florestais patrulham a floresta e através do nosso programa de monitoramento, temos registrado um aumento de 117% na abundância de vida silvestre e o retorno do caititu, da suçuarana (Puma concolor), do macaco prego e do mutum-de-bico-vermelho. Os guardas têm limitado efetivamente a pressão dos caçadores nas áreas de fronteira da reserva e eliminaram o corte de madeira e juçara.

Geografia Física

Topografia

A reserva, que em 2022 obteve aumento de 30% na sua área e agora possui cerca de 3,800 hectares sob proteção, está localizada nas serras ao longo do litoral baiano (13º50´S, 39º10´W), 18 km do mar. A reserva forma uma área estreita de 20 km e o ponto mais largo é de 3.5 km e o ponto mais estreito não mais do que 500 m. A propriedade estende ao longo de cinco serras alinhado no eixo norte/sul e aumentam em altura do leste para o oeste, com picos de 92 a 338 m de altura. As colinas tendem a ser íngremes e terra plana é rara. 

Hidrovias
A reserva é abençoada com uma abundância de hidrovias e nascentes. Existem três rios, cujos cursos passam pela maior parte da reserva. O maior rio é Cachoeira Grande (conhecido também como Rio Mariana) que passa ao longo da fronteira norte da reserva, e dentro da Floresta Pancada Grande. Mesmo sendo um dos maiores rios da região, o rio não passa de 40 m de largura e com uma profundidade máxima de 4 metros. O rio culmina na cachoeira Pancada Grande de 61 m de altura, uma das mais espetaculares da Mata Atlântica baiana. Ele cruza com o Rio dos Índios brevemente até sair da reserva e desembocar nas águas salobras do Rio Serinhaém. Grande parte do setor do sul da reserva e as florestas da Fazenda Itapema I, vizinha da reserva, formam as cabeceiras do Rio Pacangê, que flui dentro da floresta do Pacangê e passa pelas florestas de Luiz Ignácio e Vila 5 e as terras agrícolas ao leste antes de desembocar no Rio Igrapiúna. Os morros no sudeste da reserva formam a bacia hidrográfica dos rios     Bombaça, Cego, e Barracão. Todos desembocam no Rio Igrapiúna.  Córregos são abundantes: a floresta de Pacangê tem seis, a de Luis Inácio 2, da Vila Cinco dois, e da Floresta Pancada Grande 2 córregos grandes perenes, respectivamente. 

Climas
O clima agradável do litoral sul baiano conta com 2.000 mm anuais de chuva e temperaturas de 18˚ a 30˚ C. Chuva ao longo do ano todo, porém há variações anuais na quantidade de chuva (uma gama de 1313-2666 mm entre 1954-2020) e variações mensais, mas de uma forma geral, a chuva mais pesada cai entre fevereiro e julho, o que coincide com o inverno austral. As chuvas de Santo André, que normalmente caem no fim de novembro, criam um aumento palpável de precipitação na parte mais seca do ano. As tendências de chuva varia consideravelmente e há dias em que nuvens passageiras produzem 10 chuvas rápidas, e há períodos em que pode chover semanas seguidas sem parar. No inverno, às vezes nuvens de chuva pairam sobre áreas do sul da Bahia por várias semanas enquanto outras regiões do nordeste desfrutam de sol quente. Ventos fortes, trovões e raios são eventos raros, e não existem furacões nem tornados. 

Habitats

Os habitats das florestas
As florestas cobrem cerca de 65% da reserva e estão concentradas em três blocos principais (625, 550 e 140 ha). Todos tiveram madeira extraída e não existem florestas intocadas. Algumas partes da floresta, dominadas por plantas pioneiras, foram terras previamente usadas para agricultura, enquanto outras retêm elementos da mata madura, o que indica que nunca foram completamente desmatadas, mas tiveram corte seletivo ou até intensivo.  As florestas são mosaicos variados de vegetação que refletem os distúrbios históricos do local. É comum que a estrutura florestal mude dentro de espaços curtos. A tabela 1 detalha os cinco tipos de floresta encontrados na reserva e a porcentagem ocupada nos blocos principais, por cada tipo de floresta.

Tabela 1 – Forest classification REM (PDF – 20KB)
% = porcentagem dos principais blocos de floresta na REM que abrigam esse tipo de floresta (N= 27,050 m de trilhas).

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Outros tipos de habitats

Manguezais
Há um trecho pequeno de manguezal na borda do nordeste da reserva na foz do Canal de Serinhaém. As espécies Rhizophora e Avicennia dominam a comunidade vegetal do manguezal.

Várzeas
As áreas baixas ao longo dos córregos que acumulam água criam um ambiente de solos permanentemente úmidos que são ideais para juncos, gramíneas e samambaias. Uma característica dessas várzeas são agrupamentos de capim rabo de gato que atingem 1,5 a 2 m interlaçados de arbustos e árvores nas ilhas pequenas de terra seca. A vegetação na beira da várzea atinge tipicamente de 2 a 8 m de largura com espécies de árvores pioneiras e arbustos atingindo 1 a 12 m de altura. Todas as principais vias hídricas possuem várzeas.

Plantios de seringueira (Hevea brasiliensis)
Essa região é uma das áreas mais produtivas em cultivo de borracha no Brasil e há uma quantidade grande da terra dedicada à produção dessa cultura, e plantios de seringueira ocupam 15% da paisagem da reserva. As seringueiras são plantadas com uma densidade media de 476 a 500 árvores/ha com espaçamento de 7m x 3m e 8m x 2.5m, respectivamente. As seringueiras começam a produzir sete anos após serem plantadas e podem ser sangradas ao longo do ano, porém a produção diminui durante a mudança das folhas ou durante longos períodos de chuva. As seringueiras são cortadas com navalhas especiais para criar um sulco pelo qual o látex flui até uma bica acima de um copo amarrado na árvore com um fio de arame. Os trabalhadores visitam cada árvore a cada 3 a 5 dias, coletando a borracha condensada e depois cortam um novo sulco para recomeçar o processo sangrando entre 850 e 900 árvores por dia. As árvores podem ser sangradas por décadas usando setores diferentes do tronco e deixando os setores cortados cicatrizarem. Às vezes é aplicado um hormônio para induzir produtividade maior.

A Michelin abandonou a maioria dos seringais de reserva em 2013/14, com os últimos remanescentes abandonados em 2021, de forma que hoje o REM é estritamente uma área de conservação sem atividade econômica. Uma vez abandonados, os seringais são rapidamente colonizados por vegetação pioneira, dominada por espécies de Miconia, Henrietta, Cecropia, Inga, Didymopanax, Senna, Piper, Solanum, Rauvolfia, Bauhinia, Heliconia e Cyperus, e cipos como Mikania e várias espécies de Asteraceae. Na última década, testemunhamos um recrutamento crescente de espécies florestais primárias e secundárias avançadas (Helicostylis, Brosimum, Sloanea, Pourouma, Euterpe, Sapotaceae) nos seringais abandonados conforme a população de vida selvagem se recupera e dispersa sementes em toda a paisagem. Para acelerar ainda mais a recuperação dos seringais abandonados, plantamos 107.000 árvores florestais nativas de 275 espécies em 300 ha de seringais da reserva como parte de nosso programa de restauração florestal.

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Um tour da reserva

Apresentamos aqui um tour da reserva que começa na extremidade nordeste e avança no sentido sul e oeste até o setor do sul da reserva. (veja o mapa anexo).

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Floresta amortecedora no setor norte
O ponto mais nordeste da reserva consiste em uma área de 40 ha que age como uma zona amortecedora que protege a parte principal da reserva da expansão urbana que cresce ao sul de Ituberá. Esse trecho estreito (200 a 400 metros) de floresta pioneira, cronicamente impactada, beira a BA-001, e a borda oeste beira os sistemas agroflorestais de Fazenda Velha, e o manguezal do Rio Serinhaém a leste e ao sul. É localizado ao norte o bairro popular Poeirão. Além da floresta, há 20 ha de seringueiras abandonadas. 

A Estrada para Pancada Grande
Esses 60 ha de floresta entre a rodovia BA-001 e a Cachoeira Pancada Grande sustentam plantios de seringueira com entrelinhas de vegetação pioneira densa que atinge de 2 a 5 m de altura e uma área extensiva enriquecida com espécies nativas plantadas em 2005, 2008 e 2012. Existem diversos trechos pequenos de floresta secundária densa, especialmente ao longo do rio e no caminho para a cachoeira. A estrada até a cascata bifurca na confluência dos Rios Índios e Cachoeira Grande e segue esse último até a cachoeira. Essa estrada também bifurca, com um braço que continua até a Colônia, e outro braço que termina no topo da cachoeira. Esse setor da reserva tem aproximadamente 100 a 400 m de largura e 2 km de comprimento, com um declive íngreme que se acentua ao norte do rio. Ao norte, são rocas de pequenos agricultores com sistemas agroflorestais diversos  e ao sul, grandes plantações de seringueira/cacau/banana.

A floresta de 625 ha
Essa floresta de 625 ha é um fragmento contínuo, dividido em três partes que refletem os três pontos de acesso descritos abaixo.

A Floresta de Pancada Grande
Os 172 há de floresta da Pancada Grande estão localizados na margem norte do Rio Cachoeira Grande, entre o rio e a Colônia. É levemente ondulada a topografia, com elevações de 120 m ao longo do rio e 186 m e 190 m nos topos dos dois morros. A floresta foi intensamente explorada para extração de madeira durante 25 anos entre 1950-1970s. O setor mais plano oeste foi o mais intensamente explorado e a floresta localizada ao longo da trilha na parte superior do rio, a menos impactada. Hoje, a constituição da floresta é de 48% intensamente explorado e 52% que sofreram corte seletivo intensivo. Existem trechos pequenos de árvores maduras no centro da floresta, porém a maioria das árvores grandes é da espécie Eriotheca spp, e as espécies de crescimento rápido, Tachigali, Albizia, e Parkia pendula. De uma forma geral, o dossel superior é de 10 a 15+ m com os emergentes acima de 20 m. A vegetação rasteira tende a ser densa com uma altura de 3 a 4 m, com uma abundância de palmeiras e helicônias, bromélias, filodendros, cipós, e lianas, são mais comuns na mata ciliar. Uma vegetação herbácea beira os dois córregos grandes também como os três córregos pequenos, e as diversas clareiras naturais ao longo do rio estão inundadas com bamboo trepadeira. Seringueira, cacau, banana e cravo são cultivados nas terras agrícolas adjacentes a Colônia, porém algumas dessas fazendas estão abandonadas e cobertas de mato. Durante uma invasão nos anos 90, campesinos derrubaram vários hectares ao longo da fronteira central oeste, e duas áreas menores ao longo do rio e no coração da cerne da floresta. Também cortaram árvores novas da mata ciliar, porém as mesmas têm se recuperado com muita vigor.

A Floresta do Rio
A Floresta do Rio de 273 ha beira a margem do sul do rio Cachoeira Grande por 4 km em terra plana exceto no ponto leste acima da cachoeira Pancada Grande onde o morro é íngreme e depois desce precipitosamente. Essa floresta foi intensamente impactada pela extração de madeira até o fim dos anos 70, e hoje a sua constituição é de floresta secundária densa com árvores de 8 a 15 m, com um punhado de árvores mais maduras e trechos pequenos de floresta relativamente intacta nas áreas com acesso mais difícil. O ponto oeste da Floresta do Rio foi completamente derrubado e queimado para um plantio de seringueira que foi realizado e hoje consiste em um trecho uniforme de floresta secundária, com aproximadamente 40 anos em pé, onde a árvore Pourouma domina o dossel. Trechos pequenos no centro da floresta abaixo de Vila 5 são plantios abandonados de mandioca das roças dos posseiros, da primeira metade do século 20. Uma faixa densa de vegetação segue o rio, com uma abundância de cipós, bromélias, bamboos, samambaias e tiriricas. Nesse local, o rio tem 9 a 40 m de largura e quando a água baixa ficam expostas muitas rochas, alguns trechos de cascatas e pequenas ilhas.

A Floresta da Vila 5
Os 180 ha de floresta da Vila 5, que tem 2,5 km de cumprimento e uma largura de 800 m, se espalham sobre cinco morros ao sul do rio com picos entre 160 a 288 m. A floresta foi usada como uma reserva de madeira. Também foi extraído cascalho para uso nas estradas da plantação. Hoje, os principais tipos de floresta consistem em floresta intensamente impactada (31,3%), floresta que sofreu corte seletivo intensivo (41%) e floresta levemente impactada (14,3%). A parte centro leste da floresta foi queimada no fim dos anos 60 e hoje sustenta uma floresta secundária dominada pelas espécies das árvores Pourouma, Senna, e Didymopanax, com cipós e lianas finas abundantes que compõe 10,7% da floresta. Uma área pequena (2,7% da floresta) foi uma roça de mandioca no passado. Está presente na Vila 5 a floresta mais intacta da reserva e as encostas elevadas dos morros do norte retêm trechos relativamente grandes de floresta que foi levemente impactada com alguns exemplares impressionantes das espécies Sloanea, Caryocar, Virola, Eriotheca, Licania, e Copaifera. O perfil da floresta nos trechos mais novos é de árvores novas finas e árvores de porte médio de 10 a 13 m, enquanto nos trechos mais maduros, o dossel superior é consistentemente de 17 a 20+m. O morros austrais sustenta uma floresta que foi intensamente impactada com árvores de 8 a13+ m, cipós abundantes e a liteira foliar é funda, porém nas encostas mais altas, existe um trecho de floresta com algumas árvores de floresta madura. As palmeiras Euterpe edulis são abundantes em toda a floresta, também como lianas e outras epíftas, e bromélias terrestres cobrem as rochas grandes expostas nos topos do morros. O Rio das Matas flui pela parte central da floresta e uma pequena e bonita cachoeira e cascatas são presentes durante o seu curso. A floresta tem diversas nascentes e córregos pequenos que sustentam musgos, samambaias. Plantios de seringueira/cacau/banana beiram a floresta nos três lados e ao norte fica a Floresta do Rio.

As seringueiras entre floresta
A área entre os três principais blocos de floresta ocupa cerca de 650 ha da reserva e sustenta uma mistura de monocultura de seringueira e várzeas que às vezes são contornadas por uma faixa estreita de florestas pioneiras. Os seringais agora estão todos abandonados com um mato densos de plantas pioneiras crescendo até 2-10 + m tomando conta da plantação. Isso é o local principal para o projeto de enriquecimento florestal com o plantio de 107.000 árvores de 275 espécies

A Floresta de Luís Inácio
A floresta Luís Inácio, de 140 ha, estende por quatro morros íngremes que são cortados pelo Rio das Matas. O morro no noroeste de 338 m é o pico mais alto da reserva. O setor central e o setor do leste foram plantados com mandioca por fazendeiros ao longo do século 20 e plantios abandonados ocupam 28,8% da floresta. Essas florestas secundárias são dominadas pelas espécies arbóreas Pourouma, Senna, Albizia, Byrsonima, e Didymopanax onde o dossel superior atinge 6 a12+m e as palmeiras Euterpe são abundantes na vegetação rasteira e média. Madeira foi extraída dos outros setores da floresta: 22,8% foram intensamente impactados, 37,9% sofreram corte seletivo intensivo, e 7,6% foram levemente impactados. A vegetação rasteira da maior parte da floresta é de aglomerações densas de mudas onde as árvores de porte médio atingem 6 a 15 m, porém nas encostas dos morros no norte, e ao longo do Riacho Caipora, existem pequenos trechos de floresta madura e árvores antigas. A floresta Luís Inácio é localizado a 800 m a oeste de Vila 5 e 400 m a leste da floresta de Pacangê, e é circundada por plantios de seringueira onde as entrelinhas abandonadas têm sido enriquecidas com plantios de árvores nativas nos lados norte e leste, e existem plantios de cacau/seringueira/banana nos lados leste e sul.

Floresta de Pacangê
A floresta de Pacangê de 550 ha estende-se em 7 morros íngremes ao longo de duas serras paralelas com picos que atingem 240 a 327 m. Pacangê foi cultivada desde o século 19, a maior parte de mandioca. Quatro plantios abandonados de cacau, há presenças de jaqueiras, exóticos bamboos e os restos de uma barragem para processar mandioca são provas dessa história agrícola. Hoje, a composição da floresta é 3% pastos abandonados, 49.9% plantios abandonados, 18,7% pesadamente exploradas, 23,3% intensamente exploradas, e 5,1% levemente exploradas. A floresta foi completamente derrubada nas encostas inferiores, ao longo do rio e no morro do sudoeste. Essas áreas ainda sustentam floresta secundária com vegetação densa e contínua que atinge 3 a 10 metros e nos plantios abandonados mais antigos, o dossel superior atinge 7 a 15 m. São abundantes os cipós, a densidade de bromélias é moderada, e a liteira foliar é densa. A vegetação na parte norte da floresta consiste em aglomerações impenetráveis de mudas, com vegetação contínua de 2 a 8 m. Existe também outro trecho de floresta secundária imatura no centro da floresta acima do rio que estende ao morro central na serra ocidental. O terceiro trecho de floresta secundária imatura fica na parte do meio da encosta do sudeste com aglomerações densas de arbustos e árvores que atingem 4 a 8m. Florestas exploradas compõem as partes do meio e superior de todos os morros, menos o morro no sudoeste onde a floresta mais intacta é localizada. Floresta madura que foi levemente explorada segue o cume do leste numa faixa estreita, porém contínua onde o dossel superior atinge 15 a 25 m e árvores mais maduras de 30 a 40 m. Nas encostas superiores do cume oriental, existem agrupamentos esporádicos de floresta madura que foram levemente explorados com árvores maduras onde o dossel superior atinge 15 a 25+ m e emergentes que atingem 40 m. Esses trechos maduros são ricos em lianas grandes, bromélias e outras epíftas. Uma sapucaia (Lecythis pisonis) secular na beira do rio é a maior árvore que resta na região e nos permite imaginar como eram as florestas antes dos anos 50. O pequeno Rio Pacangê passa pela parte central da floresta e flui desde uma várzea grande no canto sul da floresta e passa por outra várzea, circundado por plantios de seringueira, no canto norte da floresta, antes de desembocar no Rio Cachoeira Grande. Seis córregos grandes nascem nessa floresta também como vários córregos menores e lagoas pequenas que retêm água durante o ano todo. Os seringais abandonados ladeiam a floresta no norte e leste e no sul por uma plantação de pupunha abandonada. Pacangê é ligada ao maior trecho de floresta da região (13.000 + ha) na fronteira oriental e junto com a floresta da Fazenda Itapema I, é o setor mais largo (5 km) desse bloco de floresta.     

Setor do sul
Uma serra alta e íngreme segue a borda leste dessa área de 700 ha, com o vale do Rio Pacangê abaixo e as florestas da Itapema II ao oeste. Plantios de seringueiras abandonadas dominam a paisagem, porém há também uma rede extensiva de várzeas e vários trechos grandes de floresta pioneira (Senna, Tapirira, Cecropia, Didymopanax, Inga, Vismia, Bauhinia, Piper, Miconia, Henrietta, e gramíneas da espécie Cyperus). Existem vários plantios enriquecidos com árvores nativas no setor sul. A leste há plantios grandes de cacau/seringueira/banana e a paisagem ao sudoeste e ao sul é dominada por sistemas agroflorestais e fragmentos de floresta que foram pesadamente impactados.

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